E por falar em palavras feias…
Às vezes dou por mim a pensar que
há alguma coisa que, nesta minha história da maternidade, bate certo.
Antes de entrar para o primeiro
ano, a Clara conhecia uma ou duas palavras feias. Em casa, por norma, não
dizemos. O homem não tem por hábito soltar uns palavrões e a mim de vez em
quando salta-se-me um ‘fuck’ (assim mesmo, em inglês) ou um ‘merda’. Mas sempre
nas costas da criançada.
Aqui há uns tempos, estávamos as
duas sentadas no sofá da sala. Eu a ver televisão, ela a jogar tablet. E assim,
do nada, sai-se com uma dúvida:
“Mamã, foda-se é uma asneira?” –
Assim mesmo, sem me preparar minimamente e sem nenhum pudor. Afinal, aquela era
uma palavra normal até então.
Perante a minha cara e os meus sons
de pânico - que acompanhei com um “É uma asneira daquelas bem grandes e feias e
nunca mais deves dizer essa palavra!” – desatou a chorar.
“Eu não sabia”, chorava ela. “Por
isso é que te perguntei!”. E eu, lá acalmei a minha reação e expliquei-lhe que
o que ela fez foi o mais correto, ou seja, perguntar-me assim em privado, e
fazê-lo sempre que tenha alguma dúvida.
Nos entretantos, foi-me
perguntando por uma ou outra palavra que ouvia no recreio, e eu fui-lhe dizendo
quais eram as outras, aquelas mesmo feias, que não devemos dizer.
Num destes dias de férias,
estávamos os quatro sentados a lanchar, quando se falou nos puns do papá (sim,
à mesa!) e ele respondeu: “Sabes? Isto vai dar merda!” Eu ri, ele riu, e quando
demos conta, ela chorava desalmadamente, enquanto dizia: “Eu não gosto de pais mal-educados!”
Moral da história: o tio diz palavrões
daqueles bem feios, alto e bom som, e ela nem pestaneja! O pai (ou a mãe, há
uns dias) dizem ‘merda’ e começa o dilúvio. Ainda não percebi muito bem o
alcance destas reações, mas por enquanto, deixam-me orgulhosa.